Os povos e comunidades tradicionais acabam de ganhar mais um aliado: o
portal Ypadê. Lançado em junho, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), o site tem o objetivo de promover o fortalecimento das organizações representativas e de apoio de Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) do país.
O sistema funciona por meio do mapeamento dessas organizações e de uma plataforma virtual, que já conta com um cadastramento inicial de organizações e que permite não só a consulta aos dados, como também a inclusão de novas organizações e atualização de cadastros. A plataforma também possibilitará a interlocução entre essas organizações na web, com ferramentas interativas como fóruns de debates, atualização de eventos e notícias.
"Desde 2005, na realização do I Encontro de Comunidades Tradicionais, uma das lacunas observadas no diálogo entre governo e sociedade civil são voltadas para a questão de quantificação, qualificação e localização dos povos e comunidades tradicionais do Brasil", destaca a analista ambiental do Departamento de Extrativismo da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Renata Apoloni.
Fortalecimento
Nesse contexto, uma das iniciativas do Ministério do Meio Ambiente foi trabalhar no fortalecimento da articulação de organizações representativas e entidades de apoio de povos e comunidades tradicionais, com a meta de formar redes. A analista do MMA conta que, a partir de 2008, deu-se início à discussão do Projeto Ypadê, em parceria com a sociedade civil da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT).
O nome Ypadê surgiu da tradução da palavra no contexto dos povos de terreiro, que significa o ato de reunir, e segundo membros da CNPCT foi adotada com um sentido de "um coletivo de pessoas reunidas para celebrar, trabalhar, decidir, entre outras coisas que se faz ou que se pensa em conjunto".
Etapas
A primeira fase do trabalho de construção do site ocorreu com o desenvolvimento de uma metodologia conjunta entre a consultoria contratada - Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA), e os representantes de povos e comunidades tradicionais da CNPCT. Foram desenvolvidos questionários a serem aplicados por diferentes segmentos dos PCTs a fim de obter um mapeamento representativo das redes desses povos.
Durante a segunda fase do projeto, os questionários foram aplicados pelos representantes dos PCTs, chamados articuladores do projeto, para os segmentos: povos de cultura cigana, pescadores artesanais, comunidades pantaneiras, povos de terreiro, comunidades de fundo de pasto, quebradeiras de coco-babaçu, catadoras de mangaba, geraizeiros e pomeranos.
Como etapa final, realizou-se a sistematização das informações coletadas pelos articuladores, resultando no Portal Ypadê, que poderá ser alimentado com informações de outras organizações e segmentos, aumentando a rede estabelecida, bem como atuar como instrumento de consulta para ampliar o conhecimento sobre esses povos e fortalecer suas interações.
Até junho de 2012, foram cadastradas no portal 1.021 organizações, entre organizações de apoio e/ou representação de povos e comunidades tradicionais. Dentre as organizações cadastradas até o momento estão as dos povos de cultura cigana; povos e comunidades de terreiro; quilombolas; extrativistas, entre eles quebradeiras de coco de babaçu, catadoras de mangaba, cipozeiros, seringueiros, castanheiros, apanhadores de flores sempre-viva, piaçaveiros, andirobeiras.
Saiba mais
Povos e comunidades tradicionais são reconhecidos pelo Decreto 6.040, de 2007, como "grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição."
Há uma grande sociodiversidade entre os PCTs do Brasil. Segundo estimativas do professor e antropólogo Alfredo Wagner, cerca de 25 milhões de pessoas, um quarto do território nacional corresponde a povos e comunidades tradicionais, entre eles: povos indígenas, quilombolas, seringueiros, castanheiros, quebradeiras de coco-de-babaçu, comunidades de fundo de pasto, faxinalenses, pescadores artesanais, marisqueiras, ribeirinhos, varjeiros, caiçaras, praieiros, sertanejos, jangadeiros, ciganos, açorianos, campeiros, varzanteiros, pantaneiros, geraizeiros, veredeiros, vaatingueiros, retireiros do Araguaia, entre outros.
FONTE: Texto de Sophia Gebrim para Ascom/ICMBio, disponível aqui.