quarta-feira, 27 de abril de 2011

HISTÓRIAS DA GENTE – O ofício de marisqueira

Uma das indústrias mais produtivas e lucrativas de Caravelas foi durante muito tempo a pesca, principalmente do surubim, da garoupa, do cação e é claro, da baleia, da qual se consumia a carne e também se extraía o óleo que era utilizado como combustível para iluminação das casas e ruas, como lubrificante, na confecção da argamassa para assentamento de tijolos e blocos, na fabricação de sabão e até mesmo margarina. Hoje, mesmo com a crescente pressão sobre os recursos naturais, a degradação ambiental e o pouco apoio dos governos, que fazem com que a renda dos pescadores artesanais diminua a cada ano, a pesca artesanal ainda representa mais de 50% da produção de produtos da pesca no Brasil.





Em algumas regiões como no Nordeste, a importância dessa atividade é enorme, tanto em número de pessoas empregadas quanto na contribuição para a segurança alimentar, pois a pesca e a mariscagem garantem às populações locais uma fonte de proteína mais segura que as regiões rurais, muitas vezes castigadas pela seca e pela desertificação. A falta de emprego nessas áreas atrai um número cada vez maior de pessoas para atividades extrativas e pesqueiras, aumentando ainda mais os conflitos e causando uma diminuição de renda ainda maior. Entre os grupos sociais mais afetados estão as mulheres, que vivem, na maioria dos casos, do extrativismo e beneficiamento de moluscos, garantia de um complemento para a renda familiar.


Aqui na Barra algumas centenas de marisqueiras trabalham diariamente na limpeza de camarões, siris e outras espécies, ofício realizado de modo artesanal e com baixa remuneração, mas essencial para a comercialização destes produtos pelos frigoríficos locais. A maioria delas aprendeu ainda criança o ofício de marisqueira e o consideram essencial para o complemento da renda familiar e melhoria da qualidade de vida de suas famílias. Joelma, de 29 anos, revela gostar muito do que faz, pois o dinheiro que entra é utilizado no dia a dia para as pequenas emergências e necessidades dos filhos. Em média, cada marisqueira consegue filetar de 12 a 20 quilos de camarão por dia, recebendo R$ 1,20 por quilo.



Quando questionadas sobre o trabalho, uma questão que chama atenção é a incerteza da renda e necessidade de criação de outras alternativas, pois na entressafra, em função do período das chuvas, ou no período do defeso, o trabalho diminui muito. Além das dificuldades e problemas, um ponto que chamou muito a nossa atenção foi o aspecto social do trabalho, que, além de ser predominantemente feminino, é desenvolvido de forma coletiva, permitindo momentos de conversa e troca de experiências entre as mulheres. Ao redor da mesa os vínculos afetivos se fortalecem e valiosas lições surgem do fato de estarem todas buscando fazer o melhor, mesmo nas circunstâncias mais difíceis da vida.



FONTE: Texto de Adriene Coelho, publicado pelo Jornal O Samburá, Edição 24, de Fevereiro/Março de 2011.

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