|
Foto de Anna Carolina Negri/Azul Magazine. |
O LADO B DO SUL DA BAHIA
Prado não é famosa como Porto Seguro e nem cheia de glamour como Trancoso. Mas a cidadezinha, a 80km de Teixeira de Freitas – destino servido pela Azul –, impressiona com suas praias preservadas e o show das baleias jubartes, que visitam a região até novembro
Não leve tão ao pé da letra o que você aprendeu na escola sobre a chegada dos portugueses ao Brasil. Embora o desembarque oficial tenha sido em Porto Seguro, existe uma corrente de pesquisadores que sustenta que os primeiros indícios da natureza abundante descrita por Pero Vaz de Caminha na carta enviada à Coroa foram identificados a 200km dali. Entre os moradores de Prado, no extremo Sul da Bahia, não há dúvidas: eles garantem que, após avistar a formação montanhosa batizada de Monte Pascoal, os europeus fizeram seu début em terras tupiniquins na Barra do Cahy, uma das praias espalhadas pelos 84km de costa da cidade. O município vizinho teria sido apenas a segunda parada da trupe.
Verdade seja dita, uma vez em Prado fica bem fácil acreditar nesta versão da história. Distante o bastante da popular Porto Seguro (a 210km) e da glamurosa Trancoso (a 230km), o destino ainda guarda paraísos quase intocados que lembram o relato de Caminha. E o melhor: 515 anos depois, ainda há muito a ser descoberto. Cumuruxatiba, por exemplo, fica a 32km do Centro por estrada de terra e tem aura de paraíso hippie. Sem calçamento ou um resort sequer o povoado é um reduto de tranquilidade. A praia, de águas azul-esverdeadas, proporciona uma visão pitoresca: além dos barquinhos de pescador, um antigo píer em ruínas avança quase um quilômetro mar adentro.
Seguindo por mais 18km ao Norte, a Barra do Cahy (aquela do descobrimento), sem estrutura turística, encanta com suas deslumbrantes falésias e seus coqueirais. Com disposição – e um carro adequado – pode-se encarar mais 40km por uma estrada acidentada para chegar a Ponta do Corumbau, última praia do litoral da cidade, também acessível de barco. Considerada uma das mais belas do País e com luxuosas pousadas, tem como principal atração a ponta de areia que avança em direção ao oceano na maré baixa.
Mas nem só de praias de difícil acesso é composta a bela costa pradense. Mais perto do Centro, há encantadoras combinações de mar e terra, como a Praia da Paixão, que no passado foi destino de casais enamorados atrás de um lugar sossegado para acampar. Pouco frequentada, Japara Grande, com uma lagoa de água doce, é um dos segredos bem guardados. De Guaratiba, saem passeios de barco para mergulho com máscara e snorkel nos recifes, em que se observa corais, tartarugas-marinhas e peixes.
A região é, a propósito, um polo para os interessados em vida marinha. Não por acaso ganhou a alcunha de Costa das Baleias. É para lá que, de julho a novembro, as jubarte que vivem na Antártida rumam para perpetuar a espécie. Graças às suas águas quentes e profundidade adequada, o pedaço de mar entre o continente e o arquipélago de Abrolhos serve de berçário e área de reprodução para esses mamíferos gigantes. A partir de Caravelas, a uma hora de carro de Prado, é possível fazer passeios de barco para observação dos animais, que podem chegar a 16 metros de comprimento e pesar 40 toneladas.
Dóceis, as jubartes dão um verdadeiro show. Elas saltam, esguicham água, cantam e exibem as nadadeiras peitorais e caudais a pouquíssimos metros das embarcações, para deleite dos turistas que encaram o balanço impiedoso do mar – não custa levar um remédio para enjoo na mochila. Como o objetivo é acasalar, são comuns os empurrões e os “desentendimentos” entre os machos, que disputam a atenção das fêmeas. De acordo com o Instituto Baleia Jubarte, 15 mil animais devem visitar a costa brasileira nesta temporada.
|
Foto de Anna Carolina Negri/Azul Magazine. |
Após quase quatro horas navegando, os barcos chegam a Abrolhos. Lá é possível descer na Ilha Siriba, a única em que são permitidas visitas a pé. Ao lado de atobás e grazinas, um voluntário do ICMBio recebe os turistas e apresenta a fauna e a flora locais. Depois é só cair na água para nadar com peixes como cirurgiões azuis, agulhinhas, sargentinhos e diferentes corais. No caminho de volta para a costa, as baleias parecem fazer questão de se despedir com mais saltos e estripulias.
Destino turístico completo, Prado ainda tem boa oferta de arte e sabores. No Beco das Garrafas, no Centro, o casario do século 19 hospeda bares e restaurantes com mesas ao ar livre e cozinha caprichada. No Banana da Terra, a chef Márcia Marques – “pradense com muito orgulho” – serve drinks elaborados e quitutes como o quadradinho de queijo coalho com mel de pimenta e alho. O Jubiabá tem um inesquecível camarão na moranga. E o Donna Flor faz delícias como o camarão VG ao molho de gengibre, mel e biri-biri. A cidade leva a sua vocação gastronômica tão a sério que todo mês de outubro organiza um festival cujo objetivo é eleger o melhor prato da região. Neste ano, o evento será do dia 9 ao 18.
Quem se interessa por arte não pode deixar de fazer uma visita ao ateliê de Agadman e Agman. Pai e filho, os dois vivem em uma casa redonda toda envidraçada em que reflexos, projeções e luz compõem verdadeiras pinturas vivas, tudo meticulosamente projetado por Agadman. “Fiz um estudo da colaboração do desenho e da pintura com a arquitetura. Aqui eu zero a matéria e te jogo no espaço vazio, que é a última fronteira da forma”, filosofa o artista, natural do Piauí, mas com passagens por Brasília e Rio de Janeiro. No ateliê, além de um bom papo, é possível comprar ou encomendar esculturas e pinturas da dupla. Mais uma das boas descobertas de Prado.
FONTE: Texto de Marina Azaredo para Azul Magazine/Outubro 2015, disponível também
aqui.