CARAVELAS - Entre tantos nomes de origem indígena, os descobridores tiveram a chance de batizar um lugar especial: o arquipélago de Abrolhos, a 70 quilômetros do litoral. Os primeiros registros históricos da região com maior biodiversidade do Atlântico Sul datam de 1503, quando o navegador Américo Vespúcio teria alertado ao perigo de naufrágio diante de tantos recifes: "abram os olhos" - contam os guias. É quase por aí, exceto que Vespúcio só usou uma palavra já conhecida. Abrolhos são recifes ou baixios perigosos para as embarcações.
Os riscos são mínimos hoje em dia. A bordo de um catamarã, o trajeto entre o arquipélago e o porto mais próximo, na cidade de Caravelas, dura em média três horas. Entre julho e novembro, o tempo passa voando. É a temporada de reprodução das baleias jubarte, que vêm da Antártica se acasalar nas águas de temperatura amena da região ao Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo. De uma população em média de 9 mil baleias, o Instituto Jubarte estima que 80% esteja na região de Abrolhos. Desde 1986, quando a caça às baleias foi oficialmente proibida, a população das jubartes tem crescido exponencialmente, em média 7% por ano. A observação de baleias é uma atividade monitorada pelo instituto, que envia representantes na maior parte das viagens. Até avistar o primeiro jato d'água, a ansiedade é grande. Mas depois são tantos jatos, nadadeiras e caudas por todos os lados... Às vezes, até em dezembro se avista alguma jubarte atrasada para voltar às águas frias da Antártica.
Se estiver por lá no auge do verão, não se desanime. Os golfinhos estarão ansiosos por voltar à cena. O farol da ilha de Santa Bárbara é o primeiro sinal do arquipélago, composto por outras quatro ilhas: Siriba, Redonda, Sueste e Guarita. Santa Bárbara, onde existe um farol instalado desde 1861, está sob jurisdição da Marinha. As demais fazem parte do Parque Nacional Marinho de Abrolhos.
Desembarcamos na Siriba, única que recebe visitantes por terra, para uma trilha de cerca de 30 minutos para conhecer o habitat dos atobás brancos, espécie endêmica. Cada ilha é dominada por uma espécie de ave marinha. Na Sueste, os atobás marrons (que têm olhos azuis!) dominam.
É debaixo d'água que a biodiversidade de Abrolhos salta aos olhos. Caia no mar de snorkel e pé-de-pato para observar as tartarugas-verdes, espécie com risco de extinção, se alimentando tranquilamente de algas. O histórico de preservação do parque marinho criou uma situação rara: os bichos não nos temem. Quando você menos espera, então, pode estar nadando no meio de um cardume de cirurgião-azul, pintado de um tom fosforescente chamativo. Outras espécies que dificilmente a gente vê fora do prato, como o badejo, também nadam tranquilamente por lá.
Os corais são uma atração à parte. Na forma de cogumelos gigantes que chegam a até 25 metros de altura, os chamados chapeirões são corais que só existem em Abrolhos. Se for se dedicar somente ao mergulho, siga para os destroços de dois navios naufragados, Guadiana e Rosalina, tomados de esponjas e refúgio de espécies de peixes.
De repente a gente está falando dos budiões e dos corais cérebros com intimidade. A volta é animada com conversas sobre quem viu o quê, cada um apontando nas tabelas ilustradas o nome das espécies observadas. Um se lamentando de ter perdido as tartarugas, outro se gabando da sorte... e as jubartes se despedindo no caminho.
SERVIÇO:
Horizonte Aberto: Passeios de 12 horas, com alimentação e kit de mergulho livre por R$ 210. A taxa de contribuição para a ilha é de R$ 27. Tel. (73) 3297-1474. horizonteaberto.com.br
FONTE: Imagens do João Ramos, da Bahiatursa e texto de Fernanda Dutra para o Caderno Boa Viagem, do Jornal O Globo, aqui.
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