quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Revista traz matéria que mostra os conflitos entre o crescimento das baleias jubarte e pescadores artesanais na Bahia


O esforço de muitos defensores da natureza está em aumentar a população dos animais marinhos e evitar a extinção de algumas espécies. Em Abrolhos, no sul da Bahia, o aumento da população de baleias-jubartes é motivo de alegria entre os ambientalistas. Com um crescimento de cerca de 7% ao ano, a estimativa é de que existam mais de 15 mil jubartes na costa brasileira e boa parte delas está em Abrolhos, um dos mais importantes destinos de mergulho do Brasil. No entanto, reportagem da jornalista Marina Guedes, publicada pela revista digital Plurale, mostra que os pescadores da região sul da Bahia não estão muito felizes com esses números. Se, por um lado, o aumento das baleias é bom para a natureza, por outro, a atividade de pesca tem sido prejudicada por esses animais, defendem.

A APESCA, Associação de Pescadores de Rede de Arrasto, Boeira e Fundo de Arraieira de Caravelas, defendem que as baleias destroem inúmeras redes de pesca ao se enrolarem nelas enquanto nadam pelo mar, trazendo grandes prejuízos aos trabalhadores. “Para a nossa pesca a baleia é um problema. Não vamos sair matando estes animais, mas elas nos dão bastante prejuízo. Nossa associação foi criada para ver onde poderíamos encontrar, pelo menos, a reposição dos materiais perdidos. E isso até hoje não aconteceu. O que fazer com a rede, com o apetrecho de pesca que a baleia destrói? Ela está ali, em seu habitat, mas nos dá prejuízo. Não tem ninguém que nos ajude a reparar, um pouco, esses impactos causados por elas”, comentou Hélio Borges, presidente da APESCA.

De acordo com o presidente, uma das soluções para o problema seria a criação de um seguro defeso, que determina períodos específicos de paralisação da pesca nas épocas em que a reprodução dos animais atinge seu ápice. A estratégia já existe em relação aos camarões e tem evitado prejuízos para a natureza e para os pescadores. Durante 45 dias no ano, os pescadores são proibidos de pescar camarões para que a espécie se reproduza. No período de paralisação, o governo federal paga quatro salários mínimos para os trabalhadores que ficam sem sua principal fonte de renda. No entanto, para alguns pescadores, há muitas falhas em relação ao pagamento. “Ficamos 45 dias sem receber um centavo, esperando o seguro ser pago. Chega esta época e fica uma situação precária. Fazemos um sacrifício para comprar a embarcação, empréstimo para comprar a rede e material. Botamos a rede na embarcação, satisfeitos, pensando que vamos ter uma renda para assumir o compromisso e a baleia vem, mete a cara, arrebenta tudo. É prejuízo na certa”, comentou Braz Gonçalves dos Santos, pescador da região. Segundo dados da APESCA, existem de 1300 a 1700 pescadores na cidade de Caravelas, onde está localizado o arquipélago de Abrolhos. Entre 6 mil e 8 mil pessoas dependem da atividade direta ou indiretamente.

Para realizar a pesca artesanal, os trabalhadores utilizam redes especiais, chamadas de boieira ou de caída. Elas são lançadas geralmente no final da tarde e recolhidas duas ou três horas depois. Algumas dessas redes possuem dois quilômetros de comprimento e os prejuízos causados pelas jubartes podem chegar a 20 mil reais. “Cada embarcação leva, no mínimo, 30, 70 até 80 panos de rede. Cada panagem é em torno de 70 metros. A baleia quando pega leva praticamente 80% do material. Arrebenta e vai arrastando até onde consegue se soltar. Algumas não conseguem e morrem. Às vezes, o pescador tem uma perda de 30, 40 panagens, em torno de R$ 15 mil, R$ 20 mil de material. Para repor isso depois, vai levar anos. É um prejuízo gigantesco dos dois lados, ao pescador e à baleia, que acaba morrendo logo na sequência, fica uns três, quatro dias se batendo na rede e acaba morrendo depois”, afirma Lixinha, apelido de Wilson Alexandre Jesus Farias, pescador que interrompeu seu trabalho para atuar em defesa da classe. Mas, apesar dos esforços, pelo menos por enquanto o conflito continua sem solução.

O Instituto Baleia Jubarte, organização não governamental criada em 1996 para defender esses animais, tem criado estratégias para minimizar os problemas na região de Caravelas. Por meio da produção de um documentário, o Instituto espera entrar em contato com autoridades de Brasília e pedir apoio. O objetivo é se reunir com representantes do Ministério da Pesca, do Meio Ambiente, deputados e senadores e buscar uma solução eficaz para os pescadores e para os animais. “Tentamos uma reunião onde os pescadores iriam apresentar o problema, mas na última hora cancelaram a vinda do representante do Ministério da Pesca. A questão do emalhe de baleia (situação em que o animal fica preso na rede acidentalmente) não é um problema local, acontece em vários países. Na Comissão Internacional das Baleias há workshops sobre emalhe. Um dos próximos, talvez em abril de 2015, será sobre formas de prevenção. Queremos trazer experiências do mundo para discutir aqui”, afirmou Milton Marcondes, médico veterinário e diretor de pesquisa do Instituto.

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