sexta-feira, 25 de abril de 2014

À nova fase de Abrolhos - Texto do Instituto Neomondo

Aquisição de botes e lanchas.  Manutenção de motores.  Equipamentos de vigilância.  Segurança. Poluição ambiental. Mudanças  climáticas. Reservas extrativistas. Pesca  predatória. Peixe budião-azul. Baleia  jubarte. Fiscalização. Uso sustentável  dos recursos naturais. Conservação de  uma extensão de 880km2 . Medida certa  do turismo. Legislação. Mobilização da  sociedade civil. Colaboração. Pessoas.  Mais pessoas.

Como faz?

Todos esses itens estão no dia a dia dos  gestores do Parque Nacional Marinho  dos Abrolhos, localizado no extremo Sul  da Bahia - em uma das regiões de maior  biodiversidade do Atlântico Sul e um dos  principais berçários de baleias jubarte do  mundo. O Parque é um Posto Avançado  da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica  desde 2003 e Sítio RAMSAR desde 2010,  títulos que evidenciam a importância do  local mundialmente.

Há três meses, outro assunto entrou na  pauta dos gestores de Abrolhos - uma  fatia do investimento de US$ 116 milhões  que serão destinados às áreas protegidas  costeiras e marinhas do País nos próximos  cinco anos por um programa chamado  GEF Mar. O valor inclui R$ 18 milhões  do Fundo Global para o Meio Ambiente  (GEF) e US$ 98 milhões em recursos de  contrapartida da Petrobras e do governo  brasileiro (US$ 90 milhões da empresa e  US$ 8 milhões somados do ICMBio e do  Ministério do Meio Ambiente).

De acordo com Ricardo Jerozolimski, chefe  do Parque, esse investimento será muito  importante para o apoio à consolidação  das unidades de conservação (UCs)  envolvidas no programa. Ajudará também  na aquisição de mais embarcações,  instalações e manutenção de centro de  visitantes, contratação de serviços e nos  projetos de ampliação da proteção das  áreas marinhas.

Abrolhos Hoje

Em 2013, Abrolhos recebeu 4.344  visitas, 6% a mais que no ano anterior.  Foram realizadas doze pesquisas  científicas, sendo duas expedições para  realização do monitoramento recifal  (Reef-Check). Além disso, o Conselho  Consultivo foi renovado e foi publicada  a Portaria de Autorização de Uso para as  empresas que operam turismo no Parque.

A equipe é composta hoje por três  servidores, sendo dois analistas  ambientais e um técnico ambiental. Há  também funcionários terceirizados que  dão suporte para as atividades que são  desenvolvidas - vigilantes patrimoniais,  serviços gerais, monitores ambientais  e tripulação, somando cerca de vinte  funcionários. O parque conta também  com o Programa de Voluntariado, que  recebe estudantes do ensino médio e  superior de várias escolas brasileiras e do  exterior para atividades de, no mínimo,  vinte dias acompanhando os monitores  no arquipélago e no continente. 

“Além do turismo, nós prestamos apoio  para a realização de pesquisas científicas  e monitoramentos da biodiversidade  ao longo de todo ano”, conta  Jerozolimski. “Mantemos um alojamento  no arquipélago, o que possibilita a  realização de diversas expedições e os  monitoramentos acontecem já há muitos  anos, como a observação de aves, baleias  e corais”. 

Algumas atividades são realizadas em  conjunto com a Resex do Corumbau  e com a Resex do Cassurubá, o que  permite a integração de planejamentos  para otimizar a infraestrutura e de pessoal  nas unidades de conservação marinhas  da região. As parcerias com instituições  colaboradoras também fortalecem a  gestão destas unidades.

Hoje, o conselho é formado por 22  instituições que representam diferentes  setores da sociedade civil e governo.  Ao longo dos 30 anos de existência, as  relações com a população local tiveram  diferentes momentos. “Atualmente,  temos desenvolvido e apoiado diversas  atividades de educação ambiental  e comunicação comunitária junto à  comunidade local, buscando uma  aproximação cada vez maior”, conta  Jerozolimski. Esse relacionamento deve  se intensificar com a retomada das  discussões sobre a ampliação e criação de  novas unidades de conservação federais  na região. O ICMBio tem também uma  grande aproximação com a população  local, por meio da gestão das reservas  extrativistas da região, que possuem o  objetivo principal de manter áreas para  as populações tradicionais beneficiárias  fazerem o uso sustentável dos recursos  naturais.

Segundo Jerozolimski, o ICMBio tem  investido bastante na capacitação de  seus servidores em diversas áreas do  conhecimento. Para trabalhar no Parque,  o profissional deve ter afinidade com  assuntos relacionados ao bioma marinho,  principalmente turismo, pesquisa e  fiscalização. As unidades de conservação  marinhas da região estão iniciando um  planejamento integrado de ações que  possibilitará aumentar a efetividade dos  resultados da gestão.

Pesca

A crise mundial da pesca está  forçando pescadores a recorrer a  soluções questionáveis em busca  dos melhores peixes. Em Abrolhos,  a pesca ilegal e a sobrepesca são  constantes, os pescadores se arriscam  bastante e há populações marinhas que  estão sendo reduzidas a menos de 50%.  “A comunidade local trabalha muito  e ajuda a manter e criar as reservas. O  grande problema são os pescadores que  não fazem parte desse grupo. Eles têm  a filosofia de “pescar até acabar” e não  estão interessados num diálogo mais  amplo”, diz Guilherme Dutra, diretor  do Programa Marinho da organização  Conservação Internacional (CI Brasil).

“Colaboração e incentivo são necessários  para que as pessoas entendam que manter  algumas áreas onde a pesca seja proibida  pode ser benéfico, pois, esses locais, ao  serem protegidos, permitem às espécies  terem lugares para se alimentar, abrigar e  reproduzir”, ressalta Jerozolimski. O peixe  budião-azul, por exemplo, corre risco de  extinção. “Ele é um peixe importante  porque se alimenta de algas que crescem  nos corais. Sem o budião-azul, há um  desequilíbrio nos recifes, as algas crescem  muito, sufocam e matam os corais”,  explica Guilherme Dutra.

Pesca de mergulho ou pesca de  compressor. O porto de Alcobaça  é o maior centro dessa prática na  região. O pescador mergulha em altas  profundidades, com apenas um arpão  na mão e uma mangueira de ar entre os  dentes, em busca de badejos e garoupas  entocados nos recifes, os quais nem  as redes e nem os anzóis conseguem  levar para a superfície - e praticamente  já desapareceram de água mais rasas,  pescados à exaustão. O ar é bombeado da  superfície por compressores acoplados ao  motor do barco, em vez de carregado nas  costas de um cilindro. Isso permite que  os pescadores passem muito mais tempo  debaixo d´água - o tempo que quiserem.  E traz à tona uma série de riscos para  os pescadores por causa da respiração  coordenada de forma errada, tais como  mortes, ferimentos e outras sequelas.

A pesca de mergulho com compressor tem  potencial para ser a forma mais seletiva e  sustentável de pescaria no mar, desde que  a seleção dos peixes seja feita de forma  ecologicamente correta, sem prejuízo  para a reprodução das espécies. Do ponto  de vista legal, a pesca de compressor não  é regulamentada, mas também não é  proibida explicitamente em nenhuma lei  para a captura de peixes, apenas de lagosta.

O problema no caso das garoupas e  badejos, o alvo favorito dessa atividade, é  que os peixes mais visados pelos caçadores  são justamente aqueles que não se  deveria matar. Eles são hermafroditas.  Todos nascem fêmeas e apenas alguns  indivíduos se tornam machos dentro de  uma população. 

São os peixes maiores e, portanto, os  mais cobiçados pelos caçadores. Nessas  espécies, a proporção é de um macho  para cada dez fêmeas. Quando um  macho é removido da população, uma  fêmea dominante muda de sexo para  ocupar seu lugar, mas a transformação  não é imediata, e só terá efeito prático na  reprodução do ano seguinte.

“A expectativa é mudar o que temos hoje  e adotar um modelo de pesca sustentável  na região. Para isso, o primeiro passo  é fazer um diagnóstico – como está a  pescaria hoje? Como mudar a prática  da pesca dentro de um equilíbrio  considerando estoque e capacidade de  reposição das espécies?”, diz Guilherme Dutra. 

Turismo

A visibilidade e temperatura da água,  aliada a grande diversidade de vida,  fazem do Parque Nacional Marinho  dos Abrolhos um dos melhores lugares  para a prática do mergulho contemplativo  do Brasil. O Parque está aberto à visitação  e lá o turista tem a oportunidade de  conhecer e mergulhar num local repleto  de vida e história. De julho a novembro, a  região recebe a visita de milhares de baleias  jubarte, que vêm dos mares da Antártida  para se acasalar e reproduzir e se tornam a  grande atração para os turistas, que podem  vê-las a cem metros de distância. O Centro  de Visitantes em Caravelas é uma grande  atração do extremo sul baiano e recebe  escolas da região e de outras partes do país  para atividades de Educação Ambiental.

O mergulho autônomo no interior do Parque  pode ser realizado em recifes ao redor  das ilhas, chapeirões (que são estruturas  recifais que só existem em Abrolhos),  naufrágios e mergulho noturno. Para isso,  a presença de condutores de mergulho  é obrigatória. Eles são mergulhadores  profissionais da comunidade local treinados  para levar os turistas para mergulhar no  Parque, contribuindo para uma maior  segurança e controle de possíveis impactos  ambientais. O turista também pode fazer  uma caminhada em uma das ilhas do  arquipélago e ver de perto colônias de aves  marinhas, a vegetação e a geologia do local.

O turismo pode gerar, além de empregos  e renda para a população local, a  conscientização das pessoas e motivar a  vontade de conhecer cada vez mais e se  engajar na conservação do meio ambiente.  Todavia, como qualquer outra atividade,  precisa ser controlada e bem administrada.  Para isso o Parque tem um Plano de Uso  Público desde 2005, que organiza e define  os locais para visitação, as normas e as  atividades. As operadoras estão alinhadas  com os gestores e estão passando pelo  momento de credenciamento, segundo  as novas prerrogativas da Portaria de  Autorização de Uso. Os barcos privados  que levam os turistas partem de Caravelas  (Bahia) e têm dispositivos para minimizar  a poluição ambiental. “O turismo é uma  atividade muito importante para Abrolhos e  gera renda para a região. Temos conversado  muito com as operadoras para incentivá- lo e fomentá-lo de forma responsável. Precisamos viabilizar outras maneiras  de acesso ao parque. Hoje o aeroporto  mais próximo é o de Porto Seguro”, diz Guilherme Dutra.

Os hotéis da região, restaurantes e postos  de gasolina contribuem para que o turista  faça um bom passeio ao Parque. Os  governos municipais e estaduais estão  mostrando cada vez mais interesse em  impulsionar o turismo no local, como a  implementação da Câmara de Turismo da  Costa das Baleias pelo Governo do Estado  da Bahia, as parcerias com o SEBRAE e os  programas do Ministério do Turismo.

Perspectivas

Os profissionais envolvidos na gestão do Parque têm boas perspectivas para o novo momento de Abrolhos. Em janeiro, foi  lançada a campanha “Adote Abrolhos”, além do investimento anunciado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente  (GEF). Ricardo Jerozolimski diz que o pior momento de uma unidade de conservação é quando ela não tem perspectivas de  curto, médio ou longo prazos. “No caso do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, com a perspectiva atual da entrada de  recursos, com a vinda prevista de mais dois servidores, com a crescente gestão integrada entre as áreas protegidas da região  e com o grande apoio das ONGs envolvidas em campanhas como a Adote Abrolhos, vejo a unidade em um momento bem  promissor”. Guilherme Dutra aposta numa mudança de realidade. Segundo ele, também é preciso olhar para a ampliação da  proteção das unidades, criar outras reservas e fazer uma gestão integrada das áreas protegidas. 

Para saber mais sobre o Parque: www.icmbio.gov.br/parnaabrolhos

FONTE: Neomondo, leia o texto completo aqui.

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