Aquisição de botes e lanchas. Manutenção de motores. Equipamentos de vigilância. Segurança. Poluição ambiental. Mudanças climáticas. Reservas extrativistas. Pesca predatória. Peixe budião-azul. Baleia jubarte. Fiscalização. Uso sustentável dos recursos naturais. Conservação de uma extensão de 880km2 . Medida certa do turismo. Legislação. Mobilização da sociedade civil. Colaboração. Pessoas. Mais pessoas.
Como faz?
Todos esses itens estão no dia a dia dos gestores do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, localizado no extremo Sul da Bahia - em uma das regiões de maior biodiversidade do Atlântico Sul e um dos principais berçários de baleias jubarte do mundo. O Parque é um Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica desde 2003 e Sítio RAMSAR desde 2010, títulos que evidenciam a importância do local mundialmente.
Há três meses, outro assunto entrou na pauta dos gestores de Abrolhos - uma fatia do investimento de US$ 116 milhões que serão destinados às áreas protegidas costeiras e marinhas do País nos próximos cinco anos por um programa chamado GEF Mar. O valor inclui R$ 18 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e US$ 98 milhões em recursos de contrapartida da Petrobras e do governo brasileiro (US$ 90 milhões da empresa e US$ 8 milhões somados do ICMBio e do Ministério do Meio Ambiente).
De acordo com Ricardo Jerozolimski, chefe do Parque, esse investimento será muito importante para o apoio à consolidação das unidades de conservação (UCs) envolvidas no programa. Ajudará também na aquisição de mais embarcações, instalações e manutenção de centro de visitantes, contratação de serviços e nos projetos de ampliação da proteção das áreas marinhas.
Abrolhos Hoje
Em 2013, Abrolhos recebeu 4.344 visitas, 6% a mais que no ano anterior. Foram realizadas doze pesquisas científicas, sendo duas expedições para realização do monitoramento recifal (Reef-Check). Além disso, o Conselho Consultivo foi renovado e foi publicada a Portaria de Autorização de Uso para as empresas que operam turismo no Parque.
A equipe é composta hoje por três servidores, sendo dois analistas ambientais e um técnico ambiental. Há também funcionários terceirizados que dão suporte para as atividades que são desenvolvidas - vigilantes patrimoniais, serviços gerais, monitores ambientais e tripulação, somando cerca de vinte funcionários. O parque conta também com o Programa de Voluntariado, que recebe estudantes do ensino médio e superior de várias escolas brasileiras e do exterior para atividades de, no mínimo, vinte dias acompanhando os monitores no arquipélago e no continente.
“Além do turismo, nós prestamos apoio para a realização de pesquisas científicas e monitoramentos da biodiversidade ao longo de todo ano”, conta Jerozolimski. “Mantemos um alojamento no arquipélago, o que possibilita a realização de diversas expedições e os monitoramentos acontecem já há muitos anos, como a observação de aves, baleias e corais”.
Algumas atividades são realizadas em conjunto com a Resex do Corumbau e com a Resex do Cassurubá, o que permite a integração de planejamentos para otimizar a infraestrutura e de pessoal nas unidades de conservação marinhas da região. As parcerias com instituições colaboradoras também fortalecem a gestão destas unidades.
Hoje, o conselho é formado por 22 instituições que representam diferentes setores da sociedade civil e governo. Ao longo dos 30 anos de existência, as relações com a população local tiveram diferentes momentos. “Atualmente, temos desenvolvido e apoiado diversas atividades de educação ambiental e comunicação comunitária junto à comunidade local, buscando uma aproximação cada vez maior”, conta Jerozolimski. Esse relacionamento deve se intensificar com a retomada das discussões sobre a ampliação e criação de novas unidades de conservação federais na região. O ICMBio tem também uma grande aproximação com a população local, por meio da gestão das reservas extrativistas da região, que possuem o objetivo principal de manter áreas para as populações tradicionais beneficiárias fazerem o uso sustentável dos recursos naturais.
Segundo Jerozolimski, o ICMBio tem investido bastante na capacitação de seus servidores em diversas áreas do conhecimento. Para trabalhar no Parque, o profissional deve ter afinidade com assuntos relacionados ao bioma marinho, principalmente turismo, pesquisa e fiscalização. As unidades de conservação marinhas da região estão iniciando um planejamento integrado de ações que possibilitará aumentar a efetividade dos resultados da gestão.
Pesca
A crise mundial da pesca está forçando pescadores a recorrer a soluções questionáveis em busca dos melhores peixes. Em Abrolhos, a pesca ilegal e a sobrepesca são constantes, os pescadores se arriscam bastante e há populações marinhas que estão sendo reduzidas a menos de 50%. “A comunidade local trabalha muito e ajuda a manter e criar as reservas. O grande problema são os pescadores que não fazem parte desse grupo. Eles têm a filosofia de “pescar até acabar” e não estão interessados num diálogo mais amplo”, diz Guilherme Dutra, diretor do Programa Marinho da organização Conservação Internacional (CI Brasil).
“Colaboração e incentivo são necessários para que as pessoas entendam que manter algumas áreas onde a pesca seja proibida pode ser benéfico, pois, esses locais, ao serem protegidos, permitem às espécies terem lugares para se alimentar, abrigar e reproduzir”, ressalta Jerozolimski. O peixe budião-azul, por exemplo, corre risco de extinção. “Ele é um peixe importante porque se alimenta de algas que crescem nos corais. Sem o budião-azul, há um desequilíbrio nos recifes, as algas crescem muito, sufocam e matam os corais”, explica Guilherme Dutra.
Pesca de mergulho ou pesca de compressor. O porto de Alcobaça é o maior centro dessa prática na região. O pescador mergulha em altas profundidades, com apenas um arpão na mão e uma mangueira de ar entre os dentes, em busca de badejos e garoupas entocados nos recifes, os quais nem as redes e nem os anzóis conseguem levar para a superfície - e praticamente já desapareceram de água mais rasas, pescados à exaustão. O ar é bombeado da superfície por compressores acoplados ao motor do barco, em vez de carregado nas costas de um cilindro. Isso permite que os pescadores passem muito mais tempo debaixo d´água - o tempo que quiserem. E traz à tona uma série de riscos para os pescadores por causa da respiração coordenada de forma errada, tais como mortes, ferimentos e outras sequelas.
A pesca de mergulho com compressor tem potencial para ser a forma mais seletiva e sustentável de pescaria no mar, desde que a seleção dos peixes seja feita de forma ecologicamente correta, sem prejuízo para a reprodução das espécies. Do ponto de vista legal, a pesca de compressor não é regulamentada, mas também não é proibida explicitamente em nenhuma lei para a captura de peixes, apenas de lagosta.
O problema no caso das garoupas e badejos, o alvo favorito dessa atividade, é que os peixes mais visados pelos caçadores são justamente aqueles que não se deveria matar. Eles são hermafroditas. Todos nascem fêmeas e apenas alguns indivíduos se tornam machos dentro de uma população.
São os peixes maiores e, portanto, os mais cobiçados pelos caçadores. Nessas espécies, a proporção é de um macho para cada dez fêmeas. Quando um macho é removido da população, uma fêmea dominante muda de sexo para ocupar seu lugar, mas a transformação não é imediata, e só terá efeito prático na reprodução do ano seguinte.
“A expectativa é mudar o que temos hoje e adotar um modelo de pesca sustentável na região. Para isso, o primeiro passo é fazer um diagnóstico – como está a pescaria hoje? Como mudar a prática da pesca dentro de um equilíbrio considerando estoque e capacidade de reposição das espécies?”, diz Guilherme Dutra.
Turismo
A visibilidade e temperatura da água, aliada a grande diversidade de vida, fazem do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos um dos melhores lugares para a prática do mergulho contemplativo do Brasil. O Parque está aberto à visitação e lá o turista tem a oportunidade de conhecer e mergulhar num local repleto de vida e história. De julho a novembro, a região recebe a visita de milhares de baleias jubarte, que vêm dos mares da Antártida para se acasalar e reproduzir e se tornam a grande atração para os turistas, que podem vê-las a cem metros de distância. O Centro de Visitantes em Caravelas é uma grande atração do extremo sul baiano e recebe escolas da região e de outras partes do país para atividades de Educação Ambiental.
O mergulho autônomo no interior do Parque pode ser realizado em recifes ao redor das ilhas, chapeirões (que são estruturas recifais que só existem em Abrolhos), naufrágios e mergulho noturno. Para isso, a presença de condutores de mergulho é obrigatória. Eles são mergulhadores profissionais da comunidade local treinados para levar os turistas para mergulhar no Parque, contribuindo para uma maior segurança e controle de possíveis impactos ambientais. O turista também pode fazer uma caminhada em uma das ilhas do arquipélago e ver de perto colônias de aves marinhas, a vegetação e a geologia do local.
O turismo pode gerar, além de empregos e renda para a população local, a conscientização das pessoas e motivar a vontade de conhecer cada vez mais e se engajar na conservação do meio ambiente. Todavia, como qualquer outra atividade, precisa ser controlada e bem administrada. Para isso o Parque tem um Plano de Uso Público desde 2005, que organiza e define os locais para visitação, as normas e as atividades. As operadoras estão alinhadas com os gestores e estão passando pelo momento de credenciamento, segundo as novas prerrogativas da Portaria de Autorização de Uso. Os barcos privados que levam os turistas partem de Caravelas (Bahia) e têm dispositivos para minimizar a poluição ambiental. “O turismo é uma atividade muito importante para Abrolhos e gera renda para a região. Temos conversado muito com as operadoras para incentivá- lo e fomentá-lo de forma responsável. Precisamos viabilizar outras maneiras de acesso ao parque. Hoje o aeroporto mais próximo é o de Porto Seguro”, diz Guilherme Dutra.
Os hotéis da região, restaurantes e postos de gasolina contribuem para que o turista faça um bom passeio ao Parque. Os governos municipais e estaduais estão mostrando cada vez mais interesse em impulsionar o turismo no local, como a implementação da Câmara de Turismo da Costa das Baleias pelo Governo do Estado da Bahia, as parcerias com o SEBRAE e os programas do Ministério do Turismo.
Perspectivas
Os profissionais envolvidos na gestão do Parque têm boas perspectivas para o novo momento de Abrolhos. Em janeiro, foi lançada a campanha “Adote Abrolhos”, além do investimento anunciado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Ricardo Jerozolimski diz que o pior momento de uma unidade de conservação é quando ela não tem perspectivas de curto, médio ou longo prazos. “No caso do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, com a perspectiva atual da entrada de recursos, com a vinda prevista de mais dois servidores, com a crescente gestão integrada entre as áreas protegidas da região e com o grande apoio das ONGs envolvidas em campanhas como a Adote Abrolhos, vejo a unidade em um momento bem promissor”. Guilherme Dutra aposta numa mudança de realidade. Segundo ele, também é preciso olhar para a ampliação da proteção das unidades, criar outras reservas e fazer uma gestão integrada das áreas protegidas.
Para saber mais sobre o Parque: www.icmbio.gov.br/
FONTE: Neomondo, leia o texto completo aqui.
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