Especialistas já deixaram bem claro que o Brasil não está preparado para evitar ou conter vazamentos de petróleo: o investimento em tecnologia preventiva é pequeno e o Plano Nacional de Contingência, embora previsto em lei, nunca saiu do papel.
Para o historiador ambiental Aristides Soffiati, do Núcleo de Estudos Socioambientais da UFF de Campos, em entrevista ao Jornal O Globo em 2011, governo e empresas têm dado ênfase na pesquisa de prospecção de petróleo mas pouco se tem avançado no desenvolvimento de tecnologia preventiva.
Agora mais uma etapa desta discussão volta à tona, pois a petroleira britânica BP Energy do Brasil, responsável pelo maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos, ocorrido em 2010 com a explosão de uma plataforma da BP no golfo do México, recebeu a permissão final das autoridades brasileiras para iniciar a exploração nas costas do Brasil. A compra dos 10 blocos do grupo americano Devon Energy, aconteceu em 2011 e custou US$ 7 bilhões.
A autorização permite a BP explorar oito blocos nas bacias de Campos e Camamu-Almada, a profundidades compreendidas entre 100 e 2.780 metros, conforme informou a empresa em um comunicado. As Bacias de Camamu e Almada, situam-se na porção sul do litoral do Estado da Bahia, entre os municípios de Valença e Itacaré.
Como parte do processo de licenciamento ambiental junto ao Ibama do Poço Pitanga, localizado à 66 km da costa, na bacia de Camamu-Almada, está acontecendo na região um exercício de simulação de resposta à emergência do Poço Pitanga, o que contempla a área de Ponta de Corumbau e Abrolhos, culminando com um simulado tático no dia 13 de setembro. Estão planejados treinamentos em mar e movimentação de pessoas nas praias. Este exercício contará com a participação de diversas autoridades tais como: ANP, IBAMA e Marinha do Brasil.
A localização do poço Pitanga está na área direta de influência do banco de corais e manguezais de Abrolhos, que é berçário de um ecossistema de extrema importância ambiental e econômico para a costa brasileira, em particular para as cidades da costa do descobrimento e das baleias.
O exercício simulado de um possível vazamento de petróleo do poço Pitanga da BP, empresa que tem um histórico terrível de acidentes como do Golfo do México, com vários processos ambientais e negligências sociais comprovadas, deve no mínimo ser acompanhado de perto e com muita atenção pelos gestores públicos e organizações locais.
O exercício proposto ocorre no ápice da temporada reprodutiva da baleia Jubarte, e do turismo na Costa das Baleias, sem falar que um possível vazamento de óleo teria um potencial impacto ampliado nos recifes de Abrolhos, nas populações de aves e invertebrados, entre eles camarões e corais que na sua maioria se fixam ao fundo marinho e dependendo da espécie demoram décadas ou até séculos para formarem colônias que servem de abrigo para as fases iniciais de grandes populações de peixes e outros organismos que vivem, se reproduzem e se alimentam nessa região. Grande parte desses peixes e camarões são capturados e vão pra mesa do consumidor.
Além do prejuízo ambiental irreparável e de saúde pública, economicamente Caravelas seria afetada diretamente, já que dependemos da pesca, mariscagem, turismo e a maior parte da população vive a menos de 10 km da costa marinha.
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