Reconhecida pela Funai em 2012, a Aldeia Indígena Renascer ocupa um pequeno pedaço de terra cercado de eucalipto por todos os lados na comunidade do Bruno, localizada na zona rural do município de Alcobaça, às margens da estrada vicinal que liga Teixeira a Caravelas.
Desde 1951 nesta região, o grupo indígena formado por 30 famílias da etnia Pataxó Hã Hã Hãe, está cada vez mais acuado em meio aos plantios de eucalipto da Suzano e da Fibra. Cercadas por arame farpado e vigiados por seguranças, os índios dizem que se sentem acuados e sujeitos a fugirem a qualquer momento daquele local. Reclamam atenção e cuidado por parte das empresas, que ainda não desenvolvem nenhuma ação compensatória preocupada com a situação social e de produção destas famílias.
De acordo com Benedito de Souza Santos, docente de História e Sociologia na Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e Faculdade do Sul da Bahia (FASB), e que realiza pesquisa nesta comunidade, os índios que integram a Aldeia Renascer são oriundos da Aldeia Caramuru, em Pau Brasil, mas chegaram à região no início da década de 1950, fugindo da perseguição a que estavam sendo submetidos.
“Logo que chegamos, o fazendeiro que era o dono desse lugar disse que podíamos usar um pedaço de terra para plantar. Nos estabelecemos por aqui e fizemos nossa lavoura”, conta a índia Maria Francina de Jesus, cujo pai foi um dos primeiros a se instalar no local, juntamente com a família. Dessa pequena roça os moradores tiravam o próprio alimento e vendiam o que sobrava.
A vida seguia pacata e a subsistência estava garantida nas pequenas roças, até que as terras que ocupavam foram vendidas às empresas de celulose. Nós achamos ruim, porque as empresas chegaram e arrancaram muita lavoura sem nos pedir licença. Meteram o maquinário para dentro e arrancaram as plantações e o coqueiral”, conta dona Maria Francina.
A antiga roça dos índios deu lugar às imensas plantações de eucalipto e, atualmente, está restrita a uma faixa de não mais do que mil metros quadrados. “Hoje em dia nosso espaço é só essa faixinha de terra. De um lado a Suzano e o outro lado a Fibria. Nós plantamos, arrancamos e comemos. Depois plantamos de novo e temos que esperar amadurecer, porque não temos espaço para plantar. Vivemos assim há anos, só por milagre de Deus”, diz a índia.
Segundo ela, a pequena faixa de terra onde atualmente está plantada mandioca foi “cedida” pelas empresas de celulose às famílias há menos de dois anos e consiste em uma área de recuo da plantação de eucalipto, depois que moradores da comunidade reclamaram que as imensas árvores estavam muito próximas das residências. “Até dois anos atrás, o eucalipto era plantado praticamente na porta das casas da aldeia, tanto que quando ventava os galhos caíam no telhado da minha casa”, comenta dona Maria Francina.
De acordo com o pesquisador Benedito Souza, essa comunidade indígena foi reconhecida pela Funai somente em 2012. Antes, eram conhecidos como caboclos e utilizados como mão-de-obra nas primeiras plantações de eucalipto. Há aproximadamente cinco anos, quando passaram a reivindicar sua condição indígena, as empresas de celulose deram início a uma política de exclusão. “Os índios tiveram que deixar o local original onde haviam se estabelecido e acabaram restritos a uma pequena faixa de terra”, explica o professor.
Fonte: Teixeira News, disponível também aqui.
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